Publicado em Agre&Doce

Sexta-feira, Fevereiro 06, 2009

Por Dulce Alves

http://agre-e-doce.blogspot.com/2009/02/recomenda-se.html

jacinta @ São Luiz

Os seis concertos agendados esgotaram – o que aliado à política dos convites se traduziu num Jardim de Inverno sobrelotado… (sim, chateia…) – e não era para menos. Jacinta encheu aquela sala informal de público, mas não só. À moldura humana juntou-se uma presença amorosa e uma voz poderosa que desconhecia. Pese embora o extenso e pomposo currículo de Jacinta, a cantora é de uma simplicidade que surpreende. Trata o público como se tratasse do seu círculo de amigos. Canta, conversa, ri, recorda, confessa, comunica a cada gesto.

O saxofone e o piano juntam-se à sua voz e o jazz acontece. O cardápio anunciava temas dos anos 60, 70 e 80. Não se sabia é que os temas eram pop e que com o pop se pode fazer bom jazz. Começou com “How deep is your love” dos BeeGees, passou por Beach Boys com “Surfin’ USA”, depois um doce “My baby just cares about me” de Nina Simone. Houve também nova roupagem para temas de Bob Mcferrin, Beatles, James Brow e uma sentida apreciação a Stevie Wonder que, segundo Jacinta, tem muito talento escondido debaixo daquela capa de êxitos lamechas.

A noite terminou com o tema de Bob Marley que deu o mote a este projecto – “Songs of freedom”. Jacinta abraçou o piano para fechar em grande e a sala inteirinha abraçou Jacinta no refrão, como que a agradecer pela agradável viagem revivalista que proporcionou.
No caso de se estarem a perguntar porque recomendo eu um espectáculo que se encontra esgotado, aqui vai a resposta: agendaram-se mais 3 noites extra para os próximos dias 12, 13 e 14. Plagiando um leitor assíduo deste blog: “É de ir!”

 

 

JAZZ.PT
edição de Nov/Dez.07

Critica ao Disco “ Convexo” [a musica de Zeca Afonso]

” Há muito que Jacinta tinha este projecto – um disco apenas com música de Zeca Afonso . Todos os seus concertos incluíam uma ou duas canções de Zeca e no seu último CD para a Blue Note, “Day Dream”, introduziu a “Canção de Embalar” no meio de temas de Duke Ellington e de Thelonious Monk .

São onze as canções escolhidas . Não encontramos as mais populares , como “Grândola Vila Morena” ou “Os Vampiros” , opção correcta para não cair em facilitismos nem popularismos . Através dos seus arranjos e dos de Rui Caetano , Jacinta consegue conjugar várias linguagens musicais , indo do jazz até aos ritmos latino-americanos , o que impregna estas versões de um eclético modernismo . Até o “scat” entra neste jogo de bom gosto . Muito flexível e com impecável dicção , a cantora portuguesa dá uma forma completamente nova ao repertório de José Afonso .

O piano de Rui Caetano está sempre presente no apoio à consistência da voz , e os seus solos são criteriosos e bem adaptados aos arranjos , revelando uma profunda sensibilidade . Bruno Pedroso , pelo seu lado , baliza o ritmo com inteira competência , dando frescura e vida a todo o disco .

Um trabalho de grande qualidade em todos os capítulos .”

António Rubio

 

 

Correio da Manhã
2003-12-04 00:00:00
Música – Jacinta ao vivo no Centro Cultural de Belém
CONSAGRAÇÃO

Na passada noite, Jacinta encheu o Grande Auditório do CCB, e pôs o público em delírio com a sua contagiante forma de cantar. É a consagração da vocação e amor pelo jazz, de uma mulher que respira a vocalidade da grande música negra por todos os poros.
Pelo palco passaram canções de todas as fases da sua ainda curta carreira. Jacinta recreou um tema de Zeca Afonso, transformado em balada e entrou pela música de Bessie Smith com novos arranjos, compatíveis com a sua evidente maturidade. ‘Sing Sing Blues’, ‘Mean Old Man Blues’ e outros, desaguaram na música de Thelonious Monk, num ‘medley’ cheio de energia e excelentes ‘scats’.
‘Well You Needn’t’ e ‘In Walked Bud’ levaram toda a capacidade vocal e interpretativa de Jacinta ao seu mais alto nível.
Durante o concerto, a cantora ofereceu ainda notáveis interpretações de ‘I Haven’t Got Nobody’ e ‘Baby Won’t You Please Come Home’. Depois, foi o Grande Auditório de pé a aplaudir a melhor cantora de jazz portuguesa de sempre. O que levou a um inevitável ‘encore’ para o qual Jacinta escolheu o clássico ‘Summertime’, que, há mais de dez anos cantou no programa ‘Chuva de Estrelas’ (SIC), com a cara pintada de escuro para personificar Ella Fitzgerald.
Só que esta interpretação foi uma verdadeira explosão de talento. Cantada em tempo ultra-rápido, com grandes solos de sax tenor e trompete e diálogos com voz, o tema será para Jacinta o início de uma nova era
trazida pela consagração, só devida à sua grande capacidade de trabalho e preparação técnica.
A banda que a acompanhou esteve em todos os temas com a cumplicidade exigida para sustentar toda a força artística de Jacinta.

António Rubio